quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

eles dois

Ele fala pra desabafar (tudo pra se defender).
Ela ouve, se desculpa e tenta encontrar os erros (sempre os erros dela própria, nunca os erros dele).
Para ela, ele é perfeito.
Não sabe ela que isso é o que mais o incomoda.
Ele não quer ser perfeito.
Ela fica angustiada, sai cabisbaixa.
Ele acende um cigarro pensando em outra.
Ou talvez na próxima capa da Playboy.

tina

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

notícias estranhas

acordo com notícias estranhas...
senadores votam o fim da cpmf,
tremor de terra em minas gerais,
temporal no rio.
tudo isso hoje, 13/12, dia do forró.
um forrobodó só!

tina muller

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

no raso

não me exijam profundidade.
é exatamente aqui, no raso, que começo a descobrir muito sobre o que me rodeia.
e sobre mim mesma.

tina

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

cobrança

cobra-se tudo.
uma dívida não paga
um amor mal resolvido
o cafuné na hora de dormir
cobra-se compaixão, gratidão e solidariedade.
o telefonema não dado. o e-mail não enviado.
exige-se uma opinião, um pensamento.
e eu? e que vou cobrar?
vou cobrar uma resposta: retribui-se?

tina

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Na terra dos orixás

Na terra dos orixás
Um amor se dividia
Entre um deus que era de paz
E outro deus que combatia
Como a luta só termina
Quando existe um vencedor
Iansã virou rainha na coroa de Xangô.

Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar.

Música de Clara Nunes

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Não é feriado em Salvador

A cidade mais negra do mundo fora da África comemora discretamente o Dia da Consciência Negra. O valor do feriado, muito mais do que ser um dia a menos de trabalho (que é o que importa para muitos), está em fazer com que pensemos na data, na importância histórica que ela tem. Na necessidade de reflexão. Necessidade de reparação. Necessidade de preservação da nossa cultura. Necessidade de exigir respeito. Necessidade de acabar com esse racismo velado que vivemos todos os dias. É isso que quero ver. É isso que eu quero deixar para meus próximos: respeito pela minha cultura, respeito pela diversidade, respeito pela minha religião, respeito pela minha cor.

P.S.: Parabéns ao Ilê Aiyê, à Coordenação Nacional de Entidades Negras, ao Coletivo de Entidades Negras, ao Movimento Negro Unificado, à Semur, ao Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba e a todos que lutam pelo respeito ao povo preto. Parabéns e obrigada.

Tina Muller

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

simples

gosto de coisas simples.
podem até ser complicadas,
mas que sejam complicadamente simples.
e não simplesmente complicadas.

tina

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Algo

algo fino, alfinete
algo leve, algodão
algo sábio, alquimia
algo falso, alçapão
algo simples, alfabeto
algo claro, alvejante
algo fresco, alfazema
algo branco, almirante
algo nobre, alteza
algo vivo, altivo
algo mau, algoz
algo bom, alguém
algo novo, alvorada
algo tenso, alvoroço
algo fofo, almofada
algo massa, almoço

Nildão

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

dúvida

já faz tempo.
era um domingo.
caminhada despretensiosa com um pequeno e secreto objetivo.
conversas trocadas com estranhos nem tão desconhecidos e a dúvida entre o certo e o desejo. fiquei com o desejo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

sinal

claro que era um sinal...
o último palito de fósforo e o cigarro aceso ao contrário.
a ré que não engatava.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Hilda Hist - Da noite

Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?