quarta-feira, 19 de novembro de 2008

dueto

Chico Buarque

"consta nos astros, nos signos, nos búzios
eu li num anúncio, eu vi no espelho,
tá lá no evangelho, garantem os orixás
serás o meu amor, serás a minha paz

consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
eu fiz uma tese, eu li num tratado,
está computado nos dados oficiais
serás o meu amor, serás a minha paz

mas se a ciência provar o contrário,
e se o calendário nos contrariar
mas se o destino insistir em nos separar
danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
profetas, sinopses, espelhos, conselhos
se dane o evangelho e todos os orixás
serás o meu amor, serás, amor, a minha paz

consta na pauta, no karma, na carne, passou na novela
está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
serás o meu amor, serás a minha paz
consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
consta nos ovnis, no pravda, na vodca"

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

opções

uma cerveja na hora do almoço ou acreditar no que ele diz?
um cigarro fumado intensamente ou fingir que está tudo certo?
descarregar as fúrias para o mundo ou guardá-las bem lá no fundo, até que desapareçam?
melhor comprar um livro novo e uma passagem para chapada.
lá, fumar cigarros intensamente e tomar cervejas a qualquer hora.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

amor

queria falar de amor.
mas as palavras não me vêm.
só consigo senti-lo.
percebê-lo
um amor bom.
completo e
imperfeito.
que podia ser mais simples.
mas aí seria perfeito
e não seria amor.

tina muller

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

mistério do planeta

galvão / moraes moreira

"vou mostrando como sou e vou sendo como posso.
jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos.
e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto.
e passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas.
passado, presente, participo sendo o mistério do planeta (...)"

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

loucos

vejo,
sinto,
percebo,
sofro
e me divirto com os loucos.
eles estão em toda parte.
em todos os lugares.
em todas as línguas.
em todas as mentes.

tenho alguns dentro de mim.

tina muller

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

mudar

uma mudança
repentina
e inesperada.
uma mudança
mundana
e feliz.
mudei eu, mudaram outros.
tudo mudou.
tudo vai continuar assim,
mudando.

tina muller

terça-feira, 19 de agosto de 2008

ansiedade

antes
agora
depois
tudo
junto
aqui
ou lá.

tina muller

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

o ciúme

"tudo é perda, tudo quer buscar, cadê
tanta gente canta, tanta gente cala
tantas almas esticadas no curtume
sobre toda estrada, sobre toda sala
paira, monstruosa, a sombra do ciúme"

caetano veloso

segunda-feira, 28 de julho de 2008

gosto

gosto de coisas velhas
gosto de coisas novas
gosto de vermelho
preto
branco.
gosto de cheiro de vó
gosto de coisas de vó.
gosto de me desfazer de coisas inúteis
gosto de juntar coisas que não me são úteis.
mas que eu gosto.
gosto de andar só pelas ruas
gosto de descobrir novidades.
gosto de respirar.

tina muller

sexta-feira, 18 de julho de 2008

eles dois (2)

agora é ela que quer ser perfeita.
e ele, mais uma vez, diz que não gosta de perfeições.
nem de pessoas perfeitas, nem de ser perfeito.
ele gosta de coisas imperfeitas,
desde que sejam simples (e imperfeitas).
pra ele, não precisa ser perfeito.
precisa ser bonito.
precisa ser real.

tina muller

Resíduo

"De tudo fica um pouco.
Do meu medo.
Do teu asco.
Dos gritos gagos.
Da rosa
Ficou um pouco.
Fica um pouco de luz
captada no chapéu.
(...)
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
De duas folhas de grama,
Do maço - vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
No queixo de tua filha.
Do teu áspero silêncio
um pouco ficou,
um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
(...)
Se de tudo fica um pouco,
Mas porque não ficaria
um pouco de mim? No trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
Na consoante?
No poço?
(...)
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver...de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh, abre os vidros de loção,
E abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob os teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato."

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

me pega pela mão.
me leva pro parque.
quero andar na roda-gigante.
ver o mundo lá de cima.
sem objetivo algum.
sem falar sobre nada.
sem pensar em nada.
só isso.

tina muller

quarta-feira, 18 de junho de 2008

deixar pra lá

deixar pra lá
esperar os instintos serem extintos.
esperar os ânimos acalmarem
e as bobagens caírem no limbo do esquecimento.
um dia, um novo ciclo começará.
novas bobagens aparecerão.
os ânimos ficarão à flor da pele.
e os instintos se pronunciarão mais uma vez
e a vida vai continuar.

tina muller

quarta-feira, 4 de junho de 2008

à segunda profissional

A desculpa era tomar cerveja.
A verdade, era para criarmos laços.
Após vários meses de muitas cervejas e brincadeiras loucas, ficamos ansiosas esperando a primeira segunda-feira de cada mês. E é assim que descobrimos, mês após mês, garrafa após garrafa, o quanto somos importantes umas nas vidas das outras.
Criamos regras, que viraram leis.
Algumas abandonaram (?) o bando pela incompetência de seguir a diante.
Algumas estão de licença-viagem.
Outras aderiram ao bando pela vontade de fazer parte.
Cada segunda que passa, aprendemos mais sobre cada uma.
Cada uma com sua mania.
Cada uma com suas angústias.
Cada uma com suas conquistas.
E ficamos felizes com as alegrias das outras.
E ficamos chateadas com as tristezas das outras.
E é assim, segunda após segunda, que aprendemos a compartilhar cada vez mais.
Compartilhando muito mais que contas e copos de cerveja.
Compartilhando sensações. Dividindo segredos.
Amo vocês Profissas!

Tina (Segunda Profissional é uma confraria de mulheres publicitárias que existe desde 2006)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

to blog

eu blogo
tu blogas
ele bloga
nós blogamos
vós blogais
eles blogam.
os outros devaneiam.

tina

quarta-feira, 28 de maio de 2008

amigos

xipófagos mentais.
siameses sentimentais.
eram assim,
um com o outro.
apenas amigos,
bons amigos.
um homo,
outro hetero.
sexuais.
muito sexuais.

tina (provida de inspirações alheias)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

à simplicidade

quero criar uma seita.
uma seita onde o deus maior se chamará Simplicidade.
uma seita na qual seus seguidores se chamarão Simples.
e só os simples terão vez.
não os simples medíocres.
não os simples acomodados.
não os simples idiotas.
mas sim os Simples felizes.
os Simples que não vêm problema em tudo.
os Simples que vêm além do problema.
Simples assim, siguam-me.

Tina

by xico sá

"rezei para você me querer, rezei para você não me querer, agora assobio na rua, ciente de que o coração de um vira-lata sempre ressucita na primeira curva, logo assim cruza a solidão enferrujada da linha do trem."

xico sá

quarta-feira, 14 de maio de 2008

?

sem um.
sem outro.
com tudo.
sem nada.
ou não?

com nada.
sem tudo.
com outro.
com um.
ou sim?

tina

segunda-feira, 12 de maio de 2008

encruzilhar

quero encruzilhar o meu desejo com o teu objetivo.
o teu objetivo nada objetivo e meu desejo muito racional.
o meu desejo mais que vontade.
o teu objetivo mais que subjetivo, misterioso.

tina

orfanato portátil

"de tudo, talvez, permaneça
o que significa. o que
não interessa.
de tudo,
quem sabe, fique aquilo
que passa. um gerânio
de aflição.
um gosto
de obturação na boca.
você de cabelo molhado
saindo do banho.
uma piada. um provérbio.
um buquê de presságios.
sons de gotas na torneira da pia.
tranqueiras líricas
na velha caixa de sapato.
de tudo, talvez restem
bêbadas anotações
no guardanapo.
e aquela música linda
que nunca toca no rádio."
marcelo montenegro

segunda-feira, 7 de abril de 2008

abstração

a abstrata tentativa de ser concreto, num mundo que nada mais é do que pura abstração.

tina

terça-feira, 1 de abril de 2008

by bruna beber

"tô dormindo no lodo
da vala confortável onde dormem
os apaixonados
e lambendo sabão de cachorro
sorrindo, e sentindo cheiro de maçã
onde não tem
chamando os amigos pra almoçar
e deixando a comida esfriar
pra falar de você."

by bruna beber

segunda-feira, 24 de março de 2008

contradições

planos de curto prazo.
vontades de longo tempo.
desejos guardados.
razão em alta.
"um sol numa noite em claro".

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

vaga-lume

Tenho um vaga-lume.
Ele sempre me acompanha.
Quando acende, diz que me ama e me incendeia de felicidade.
Me coloca pra frente e diz: tá tudo certo.
Quando apaga, parte da minha luz também se vai.
Fico pequena.
Quero mudar o vaga-lume.

tina

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Carnaval sóbrio (ou observatório de bizarrices)

Um ano inteiro esperando por uma semana de folia.
A vergonha e o pudor ficam na gaveta mais escondida do armário.
Veste-se a (pseudo) fantasia da alegria.
O resultado?
Homens, mulheres, travestis, isopores, gringos, danças, mauricinhos, trabalhadores, drogas, camisinhas, bêbados, crianças, latinhas, lixo, publicidade, bebidas, multidão, luxo, velhos, cachorro-quente, patricinhas, artistas, ambulantes, xixi, trios, policiais, churrasquinho, sexo, brigas, bêbadas, povão, bandanas, sujeira, baixaria, dinheiro, música, sushi, prostitutas, gays e diversão.
Tudo num só caldeirão louco e com a lógica menos coerente que pode existir.
Bem que minha tia diz: quem inventou o Carnaval foi o demônio.

Tina

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

gira-mundo

esse mundo que gira
numa dança louca de sentimentos
uma mistura de encontros
um punhado de desencontros
num flutuar de essências.
quero congelar momentos
quero abraçar sensações.

tina

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

homenagem ao caderninho

tenho um caderninho.
lá tem de tudo:
contas, sonhos, compromissos,
desejos, obrigações, angústias,
planos, lembretes, desenhos,
palavras.
queria que um dia as palavras fizessem o caminho inverso e
pulassem das páginas pautadas (e nem sempre datadas) desse caderninho para minha mente, enchendo de idéias e soluções o meu vago pensamento.

tina

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

interrogação

será que um dia a história muda?
os papéis poderão ser invertidos e tornarem-se divertidos?
a interrogação faz a vida valer a pena...
Tina

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

as palavras de clarice

"E um dos indiretos modos de entender é achar bonito."
Clarice Lispector


Expresso duplo no café da Pinacoteca.
Jardim da Luz. Um cigarrinho para acompanhar.
Inveja do poder de Clarice Lispector para com as palavras.
Novas impressões.
De repente, um novo olhar sobre a escritora que me parecia distante.
Novas palavras. Riqueza de palavras.
Palavras tão comuns, tão distantes, tão perto.
Vontade de vencer a preguiça e ler tudo e um pouco mais.
Ler o que me parecer bom.
E o que não parecer também.

30/09/2007, uma baiana no congelante frio de 14º em São Paulo.

tina

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

um/uma

um dia.
uma praia.
uma companhia.
uma cerveja.
um pôr-do-sol.
um cigarro.
uma dúvida.
uma diversão.
uma agonia.
uma proposta.
sem resposta.
um dia.
mais um dia.

tina